Bancários precisam de muita mobilização para enfrentar os banqueiros e as urnas em 2018

“No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra/no meio do caminho tinha uma pedra. Nós somos a pedra no caminho da reforma trabalhista. ”

Com essa declaração parafraseando o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, o advogado Paulo Roberto Alves da Silva, da assessoria jurídica da Fetec-CUT/CN, fechou nesta terça-feira 15 o primeiro dia da 11ª Conferência Regional da Federação dos Bancários do Centro Norte, que está sendo realizada em Brasília em preparação à Campanha Nacional 2018.

As principais conclusões das apresentações e debates da abertura do encontro são de que a campanha deste ano ocorre em uma conjuntura muito difícil e adversa para a categoria, que além dos impactos da reforma trabalhista sobre seus direitos conquistados, os trabalhadores têm a responsabilidade de se mobilizarem para a campanha eleitoral de outubro, com o objetivo de eleger um governo que defenda seus interesses e interrompa os retrocessos que começaram a ser impostos contra a classe trabalhadora a partir do golpe parlamentar-judicial-midiático de 2016. Para as duas campanhas, serão necessárias muita participação e mobilização da categoria na defesa de seus direitos e interesses.

A Conferência termina nesta quarta 16 com a continuação dos debates sobre a campanha e com a eleição dos delegados dos bancários da região Centro Norte para a 20ª Conferência Nacional da categoria, que será realizada de 8 a 10 de junho, em São Paulo, quando os trabalhadores do sistema financeiro aprovarão a pauta de reivindicações a ser apresentada aos banqueiros.

Fortalecer a unidade no Norte e Centro Oeste

“Mais uma vez a Conferência Regional da Fetec confirma a importância de nos reunirmos para analisarmos a conjuntura e aprofundarmos o debate sobre os temas específicos, como saúde e condições de trabalho, emprego, impactos da reforma trabalhista. Foi um dia extremamente proveitoso, com um debate profundo sobre a realidade que os bancários vão enfrentar no próximo período, assim como a forma adequada de nos comunicarmos com a categoria com nossas mídias e com a mídia da campanha que estamos elaborando”, avalia Cleiton dos Santos, presidente da Fetec-CUT/CN.

“Ficou clara também a necessidade de rompermos as dificuldades geográficas da Federação, reunindo dirigentes e militantes e tirar encaminhamentos para fortalecer a unidade e a força da categoria bancária na região Norte e Centro Oeste. A Conferência cumpre esse importante papel nesse momento e tenho certeza de que estaremos muito mais fortes para os enfrentamentos que teremos no próximo período”, acrescenta Cleiton

A Convenção Coletiva em risco

Ao abordar os Impactos da ‘Reforma Trabalhista’ na CCT dos Bancários, o dr. Paulo Roberto Alves da Silva, da assessoria jurídica LBS Advogados, abordou a reforma de Temer imposta pelo grande capital, que altera 117 cláusulas da CLT e ameaça as conquistas históricas dos bancários fixadas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria, cuja validade expira em 31 de agosto. 

Entre os riscos, estão a preponderância do negociado sobre o legislado, a prevalência de acordos individuais sobre acordos coletivos, a restrição do acesso à justiça por parte do trabalhador e a substituição de sindicatos por pessoas “eleitas” nas empresas para negociar.

“É momento de estreitar laços, fortalecer a unidade e trazer um novo conteúdo de discussão para enfrentar essa situação inusitada que os trabalhadores nunca enfrentaram, nem durante a ditadura militar”, disse Paulo Roberto.

’40 anos depois, temos que derrubar outra ditadura’

Na discussão sobre conjuntura, que abriu a conferência na parte da manhã, o ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social Ricardo Berzoini, funcionário aposentado do Banco do Brasil, alertou que, “40 anos depois do fim da ditadura militar, estamos de novo em outra ditadura”, que começou com o golpe, capitaneado pelo mercado financeiro, que destituiu uma presidenta da República sem que houvesse crime e continua com a imposição da agenda neoliberal de ataques aos direitos dos trabalhadores, à soberania nacional e à democracia.

“A luta que fazemos hoje faz parte de um processo antigo. O golpe tem uma plataforma muito ampla, que além de retirar direitos trabalhistas para transferir riqueza aos rentistas passa pelo fim da política externa soberana e do desenvolvimento econômico com inclusão social, pelas privatizações do pré-sal, da Petrobrás, Eletrobrás e bancos públicos e pelos ataques às minorias. Teremos que derrubar a ditadura de novo”, disse Berzoini.

“Precisamos enfrentar com muita coragem o que acontece no país hoje. O melhor presidente que o país teve está preso, sem provas. Porque é reconhecido pela direita como alguém que estava mudando a ordem. E o objetivo deles é fazer nos acreditar que somos impotentes pra enfrentar o golpe. Diante de nós mais uma vez há desafios históricos, que é restabelecer a democracia e eleição livre, o que não é possível sem Lula. Não fomos eleitos para representar passivamente os trabalhadores. Ou lutamos ou voltaremos à escravidão”, concluiu o ex-ministro e ex-deputado federal, também ex-presidente do Sindicato de São Paulo e da Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT), antecessora da Contraf-CUT.

‘Construir a contra-hegemonia’

Também participando da mesa de discussão sobre conjuntura, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), funcionária da Caixa Econômica Federal e ex-presidente do Sindicato de Brasília, reforçou a tese de que o golpe não acabou, “está em andamento porque querem destruir o legado dos nossos governos que a maioria da população sabe o que é, e por isso querem tirar o Lula da eleição”.

Erika afirma que entre os muitos desafios que os trabalhadores e o movimento sindical têm pela frente é o de “disputar e desconstruir as narrativas construídas pelos golpistas. É preciso construir a contra-hegemonia”. Uma delas é a tese de que “o PT acabou com o Brasil. Isso é mentira. Quem está quebrando o país é a lógica financeirizada do capital, que deu o golpe e manda neste governo”.

Para a deputada, “com rentismo não há perspectiva de desenvolvimento para o Brasil, porque para ele não interessa a Petrobrás, o pré-sal, a Eletrobras, soberania nacional, geração de empregos”. Outra narrativa que os trabalhadores devem disputar, segundo ela, é o de que “querem imputar a Lula um crime que ele não cometeu. Não há crime e não há prova. Vivemos uma ditadura que veste toga”. Uma terceira é de que Lula não pode ser candidato. “A imprensa está deixando de fora. Temos que deixar claro que Lula é o nosso candidato. É a esperança do povo brasileiro.”

Desafios da Campanha Nacional

Também falando da conjuntura, mas voltada para a realidade dos bancários, o presidente do Sindicato de Brasília, Eduardo Araújo, também explicitou os desafios da campanha nacional deste diante da conjuntura política e econômica desfavorável aos trabalhadores e aos efeitos da reforma trabalhista sobre a CCT, que colocam em risco direitos conquistados em décadas de luta.

“O roteiro que tínhamos de campanha nacional acabou e precisamos construir outro, em defesa da CCT, dos direitos conquistados e da democracia”, disse Araújo.

Na mesa que discutiu o Futuro do Trabalho/Emprego bancário frente aos avanços tecnológicos, o economista Pedro Tupinambá, Dieese, fez um histórico dos impactos da chamada quarta revolução industrial sobre o sistema financeiro. A avassaladora introdução de novas tecnologias por parte dos bancos transformou completamente o trabalho bancário e está dizimando o emprego na categoria.    

Nessa mesma mesa, o secretário de Saúde da Fetec-CUT/CN, Wadson Boaventura, alertou para os riscos que os bancários estão correndo com a disseminação de doenças físicas e psíquicas dentro dos locais de trabalho, em razão desse novo modo de produção baseado na pressão e no assédio moral para a obtenção de metas. E cobrou maior atenção do movimento sindical para enfrentar esse grave problema.

Falando também nessa mesa sobre a necessidade da democratização da comunicação, o secretário de Imprensa da Fetec-CUT/CN, Sérgio Trindade e o assessor José Luiz Frare apresentaram a proposta de mídia da campanha nacional deste ano e propuseram a realização de um seminário de comunicação da Federação com o objetivo de estabelecer uma rede entre a entidade e os sindicatos filiados e aperfeiçoar o processo comunicativo com a categoria e com a sociedade.

A 11ª Conferência prossegue nesta quarta-feira com a seguinte programação:

– Discussões sobre os bancos públicos e privados

– Encerramento

 – Projeto Organizativo, com participação da presidenta da Contraf-CUT, Juvândia Moreira.

  • O Sistema Financeiro que queremos
  • O Ramo Financeiro
  • O Macrossetor
  • Os impactos na CCT com a Reforma Trabalhista

 – Debate

– Apresentação e aprovação das propostas

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