Sindicatos criam la‡os internacionais

(São Paulo) Os trabalhadores estão rompendo os limites de suas empresas e já se organizam internacionalmente para não ser atropelados por planos e estratégias das multinacionais. Para isso, iniciaram, nos últimos anos, mecanismos de organização internacional para diminuir a vulnerabilidade em relação às matrizes.

Atualmente, as estratégias corporativas para aumentar lucros costumam ser baseadas em planos globalizados: fecham fábricas em uma região, transferem operações, demitem funcionário, às vezes aos milhares. As razões, sempre repetidas, formam um círculo vicioso e, para os trabalhadores, perverso: desvalorização do câmbio em alguns países, valorização em outro, redução de investimentos, crise na Europa ou nos países emergentes, ou qualquer outro critério que justifique tais ações na busca pelo ganho financeiro.

No Brasil, os metalúrgicos e os bancários estão entre as categorias que mais avançam no âmbito da organização internacional e articulam movimentos que buscam contratos coletivos de trabalho com parâmetros internacionais, caminhando para os com alcance mundial.

“A única chance que temos de impedir essa volúpia de implantar projetos neoliberais, que sempre impõem perdas aos trabalhadores, é avançarmos nesse processo de articulação internacional”, avalia José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ele destaca, porém, que este movimento tem de estar casado com uma forte articulação em cada país, pois caso contrário, não se sustenta.

A mesma opinião tem o economista da Unicamp, Márcio Pochmann, para quem a organização entre trabalhadores de vários países depende do grau de internacionalização do setor econômico e da capacidade de a categoria se articular seja no plano interno ou externo. “A organização internacional é mais uma necessidade do que uma tendência”, disse.

Pochmann acredita que no futuro pode haver movimentos simultâneos, como uma greve mundial, por exemplo. Para este contexto, o economista acredita em duas possibilidades: ações internacionais por categorias ou mesmo por um setor ou departamento estratégico dentro delas.

Uma mostra da cumplicidade entre trabalhadores pôde ser vista em novembro de 2000, segundo relato do vice-presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Valter Sanches. Durante a greve de trabalhadores da fábrica da Daimler Chrysler no Brasil, a direção da empresa ameaçou trazer peças da Alemanha, para esvaziar a paralisação. A resposta dos metalúrgicos europeus foi rápida, negando-se a realizar produção extra para não prejudicar o movimento dos companheiros brasileiros. A reação se repetiu em 2001, quando trabalhadores brasileiros e alemães disseram não ao aumento de produção, pretendido pelo setor patronal para interferir na greve de metalúrgicos da Mercedes da África do Sul.

Entre os bancários, os trabalhadores do ABN Real, HSBC e do Grupo Santander Banespa buscam a criação de um acordo-marco que estabeleça regras para questões como organização sindical, terceirização, acordos e negociações coletivas, critérios para admissão e demissão etc.

Os prazos para que as normas sejam definidas começam a ser firmados. Como acontece entre os metalúrgicos, a estrutura organizacional dos trabalhadores do setor financeiro propicia avanços, por meio de fóruns de debates e negociações.

Fonte: Elisângela Cordeiro – Seeb SP

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